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“Oráculo da Noite – A história e a ciência do sonho”

Atualizado: 10 de nov. de 2020

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Na representação zoomórfica encontrada na caverna Les Trois Frères, nos Pirineus franceses, datada de 14 mil anos atrás, vemos a figura conhecida como Pequeno Feiticeiro. “Sobressai à direita do desenho com cabeça de bisão e pernas humanas, talvez tocando uma flauta”, aponta Sidarta Ribeiro em Oráculo da Noite – A história e a ciência do sonho (pág. 43). A relação religioso-mágico foi a narrativa de algumas eras e aqui observamos um tempo em que os homens com suas lanças dominam a megafauna com o aprimoramento da caça.


O pesquisador apresenta uma correlação em que os nossos antepassados teriam cumprido um destino que se revelava nos sonhos. Os sonhos teriam os ajudado a imaginar o que poderiam fazer com as pedras e aqueles animais abundantes que os cercavam – por fim, projetaram a saciação da fome com a simbologia zoomórfica e quando garantiram o enchimento de suas barrigas, definiram deuses e arquétipos que viriam a prevalecer por milhares de anos. Tudo era animal naquele tempo, talvez como hoje tudo seja humano e relacional.


Mais recentemente, Freud aproximou os sonhos para uma interpretação de passado e seus traumas. Atualmente, as duas formas são estudadas, como neste livro de Sidarta Ribeiro em que passado x futuro e medos x desejos denotam a consciência de vigília e o tempo presente. O homem delimita, a partir do subconsciente, um espaço de atuação para suas experiências físico-emocionais.


Se pensarmos no tipo de parâmetros que temos utilizado para delimitar nossa realidade e escrevermos a consciência desse tempo, enxergamos a evolução do conflito comer, não ser comido e se reproduzir, para: comer, não ser comido e se relacionar. Na hipótese dessa segunda configuração – que talvez fuja do escopo do livro, pois li apenas o início – buscamos desesperadamente por atenção não por medo de não subsistir, mas pela necessidade em dar um sentido para nossa existência.


Projetamos abundância e prosperidade, que são pilares erigidos na saciação de desejos e numa forma equivalente de ser reconhecido em nossas tribos, contudo, essa experiência de sonhos vem se detendo na própria evolução dos mecanismos criados para garantir a subsistência. Mais do que isso, na supressão do acesso a estes mecanismos e, para tanto, basta pensar no caso dos povos indígenas como exemplo. Para muitos povos, não é mais possível sobreviver da terra devido a delimitação territorial e a poluição que extingue a caça e a pesca. Nas cidades, essa supressão se torna mais óbvia, já que ninguém subsiste além de um emprego, que se tornou escasso, ou da acumulação de bens, que não é uma chave de acesso para todos.


E finalmente – ao longo das eras, que transcendem a consciência estrita do tempo e dos ancestrais que viveram ao longo de milhões de anos que atravessaram glaciações e degelos – é plausível imaginar que este momento seja como a pedra no meio do caminho dos nossos ancestrais. Eles as coletaram e produziram ferramentas. Com o sapiens sapiens não será diferente. O que hoje é uma pedra no meio do caminho, e certamente é um instrumento originado no modo de vida do homem, se tornará ferramenta para desobstruí-lo.

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