Dor e doenças são algumas das sequelas da Covid-19

Milhares de pacientes considerados recuperados, no Brasil, se queixam de inflamações e doenças vasculares no pulmão, sinais cardiovasculares, problemas de saúde mental e outras enfermidades.

Texto originalmente publicado no Medium.

As principais sequelas são falta de ar e doenças pulmonares.

Ex-pacientes de Covid-19 considerados casos moderados e, principalmente os graves, vêm relatando inúmeros problemas de saúde associados à sua contaminação. Em muitos casos a recuperação leva meses, de acordo com os especialistas, e ainda existe a frágil condição psicológica que afeta muitos deles. A confirmação de sequelas sérias só vem aumentando com o passar dos meses e no Brasil, entre os mais de 5 milhões de curados do novo coronavírus, os pacientes queixosos vêm sendo classificados, em sua maioria, como pessoas com sequelas psicológicas, apenas. A verdade, contudo, não é bem essa.

Para cada caso é necessário entender o problema relatado e investigar. Como um ex-paciente grave, mesmo após três meses de alta hospitalar, eu ainda sinto alguma dificuldade na respiração, além de alterações cardíacas. Aguardo resultado de radiografia e tomografia de tórax para saber a condição atual do pulmão e, na sequência, realizarei consulta cardiológica para checar o funcionamento do coração. Em meu caso, o coração aumentou de tamanho durante a internação, o que pode ser normal, pois o coração trabalhava sobrecarregado para realizar uma maior quantidade de incursões respiratórias por minuto, chegando a 35 irpm, quando o normal seria de 12 a 20.

Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) não possui um protocolo de atendimento para ex-pacientes de Covid-19, ficando a critério de cada unidade e seu Município o tipo de procedimento a ser adotado. Em Curitiba, atestei que um exame de radiografia pode levar quase três meses para sair; já uma tomografia de tórax — exame mais detalhado em que é possível detectar alterações pequenas em estruturas do corpo, como investigar vasos pulmonares — nem consta entre os exames que o médico generalista pode solicitar durante uma consulta.

Pacientes utilizam grupos de redes sociais para relatar sequelas

Uma imensa variedade de problemas oriundos da contaminação pela Covid-19 pode ser encontrada em alguns grupos de contaminados nas redes sociais. Em um post, a moderadora de grupo aponta 90 sequelas diferentes que vêm sendo apontadas. As pessoas encontram no espaço virtual uma chance para o desabafo, mas também para encontrar dicas de exercícios e tratamentos que podem ajudar em sua recuperação.

Principais sequelas atingem pulmão, coração e a saúde mental

De acordo com reportagem da Agência Pública, um dos estudos pioneiros sobre o assunto, do Hospital Policlínico Universitário Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, indicou em julho que 32% dos pacientes analisados tiveram um ou dois sintomas e 55%, mais de três. As sequelas mais persistentes foram fadiga (53,1%), dificuldade de respirar ou dispneia (43,4%), dor nas articulações (27,3%) e dor no peito (21,7%). Outros sintomas associados à Covid-19 podem durar por meses ou anos, como a fibrose pulmonar, que não chega a ser curada, doença vascular pulmonar, miocardite aguda e insuficiência cardíaca, perda prolongada ou mudança no paladar e no olfato, ansiedade, depressão e alterações cognitivas.

Em reportagem do VivaBem, do UOL, Tim Spector, professor de epidemiologia genética do King's College de Londres, afirmou que mais de 300 mil pessoas no Reino Unido mostraram sinais que duraram mais de um mês e cerca de 60 mil delas, por mais de três meses. Spector lidera um estudo de sintomas no aplicativo Covid Symptom Study, onde foi constatado que muitos pacientes não realizam mais as tarefas diárias como antes.

Em pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da UFMG com pacientes internados no Hospital das Clínicas da Universidade, um primeiro grupo de 35 pessoas foi acompanhado pelos pesquisadores desde julho sentiram os mesmos problemas relatados no Reino Unido. São sintomas de fraqueza, falta de ar e depressão, principalmente. Para a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, Carolina Marinho, os sintomas de dor e falta de ar podem estar relacionados especificamente com a Covid-19.

No site da UFMG ela explica dois componentes da fraqueza muscular.

“Por um lado, o processo de inflamação aguda da Covid-19 ativa uma resposta inflamatória, que pode produzir lesão direta em nervos periféricos e músculos, produzindo fraqueza. Por outro lado, temos o descondicionamento físico que é provocado pela imobilidade”, afirma.

De acordo com a pesquisa, é possível que algumas das sequelas da Covid-19 persistam por até dois anos, caso tenda para o que ocorre na Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars). Para doutora Carolina, o isolamento hospitalar dos pacientes e o período longo de intubação para os casos graves podem originar os impactos psicológicos.

As sequelas tornam a contaminação da Covid-19 ainda mais perigosa, pois não basta sobreviver ao período de contaminação. É preciso tratar as doenças derivadas enquanto o resto da população aguarda a chegada da vacina. Cada caso deve ser analisado individualmente, e neste passo, além do importante apoio de amigos e familiares, é fundamental que o Ministério da Saúde adote alguma política que viabilize o tratamento de todos os ex-pacientes de Covid-19. Afinal, entre os recuperados que aparecem nas estatísticas do governo há muitos que ainda terão um longo caminho a percorrer.

Pzifer e BioNTech atestam eficácia de sua vacina

Hoje saiu uma análise preliminar da Pzifer e BioNTech, confirmando que sua vacina possui taxa de 90% de eficácia nos pacientes que a recebem. Sua imunidade deve durar ao menos um ano, de acordo com a farmacêutica americana. Ao todo já foram testadas mais de 43 mil pessoas na pesquisa, distribuídos pelos Estados Unidos, Brasil e outros quatro países.

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